O desejo de entender os motivos por trás dos fatos históricos que transformaram a sociedade acabou levando Terezinha Zavarizzi a estudar história, sua primeira graduação, já com mais de 40 anos. "Tenho muita curiosidade de saber por que as coisas são do jeito que são, além de ser um tanto quanto crítica e não aceitar as coisas como elas estão", explicou Terezinha, que conquistou seu diploma em história 2010 na Universidade Bandeirante (Uniban) e hoje é professora em uma escola estadual de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, onde mora.
A sala de aula da rede pública não foi a primeira experiência como professora para Terezinha, que já tinha dado aulas de catequese e particulares de matemática. Porém, ela afirma que é preciso se preparar muito para enfrentar uma turma com cerca de 40 alunos, inclusive buscando formação fora da faculdade.
Segundo ela, como algumas instituições particulares reduziram a duração do curso superior de cinco para três anos, o currículo cobre aspectos gerais da história.
"Se você quiser se aprofundar mais, tem que correr atrás. A pessoa tem que gostar, tem que saber que aquilo é o sacrifício", diz a professora, que dá aulas para crianças do sexto, sétimo e oitavo anos do ensino fundamental.
O resultado, porém, pode ser muito compensador para quem tem como aspiração profissional compartilhar conhecimento e contribuir para a formação das próximas gerações. "É muito legal, eu gosto muito dos alunos, eu os encaro como crianças que são, na época que estão vivendo, tento entender o contexto histórico deles... É isso que eu queria fazer, é isso que eu quero, é isso que eu faço, não me arrependo", explica.
É na docência que atua, hoje em dia, a maior parte de quem se forma em história --nesse caso, eles precisam do diploma em licenciatura. O salário mais atraente é o de professor universitário, mas as vagas são escassas. No ensino médio, o piso salarial fixado pelo Ministério da Educação é de R$ 1.451. A carreira, porém, também dá aos historiadores a possibilidade de trabalhar como pesquisadores na academia, ou seguir carreira em museus e fundações.
Quem opta pela pesquisa tem oferta de bolsas de estudo a partir de R$ 1.350. Um dos lados negativos, porém, é que a falta de regulamentação da profissão faz com que, nesses locais, o profissional não seja o único que possa cumprir a função. Em museus, por exemplo, é cada vez mais comum a presença de museólogos no lugar de historiadores.
Pesquisa acadêmica
Sabendo disso, Caroline Silveira Bauer, de 29 anos, decidiu prestar o vestibular para história e se dedicar à pesquisa acadêmica. Depois de receber o diploma de gradução pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela fez o mestrado e o doutorado também pela UFRGS, incluindo um ano de pesquisas na Universitat de Barcelona, na Espanha.
A historiadora aprofundou seus estudos com uma dissertação de mestrado sobre a repressão no Rio Grande do Sul durante a ditadura militar e uma tese de doutorado com pesquisa sobre os sistemas repressivos das ditaduras no Brasil e na Argentina, além do processo de transição democrática em ambos os países. Sua tese recebeu um prêmio da seccional do Rio Grande do Sul da Associação Nacional de História (Anpuh-RS) e foi publicada em livro.
Segundo ela, a história difere das outras ciências humanas, como geografia e ciências sociais, porque "traz uma série de ferramentas que permitem compreender por que a sociedade é do jeito que ela é, a partir do estudo do passado, da interpretação e do conhecimento sobre o presente".
Em geral, a grade curricular das faculdades está estruturada em ordem cronológica, segundo Caroline, e abrange desde a pré-história até a história contemporânea. Porém, explica ela, alguns cursos seguem o conceito da historiografia e são desenhados de forma a promover o debate entre as diferentes linhas de pesquisa sobre um fato.
"Por exemplo, quando falamos de ditadura no Brasil, existem historiadores que chamam o período de regime militar, outros de ditadura militar, há quem faça determinada interpretação sobre por que houve o golpe, e quem fala sobre por que terminou a ditadura", diz a pesquisadora.
Senso crítico
Tanto Caroline quanto Terezinha afirmam que a profissão exige muita leitura e pesquisa, além do gosto pela compreensão dos motivos e consequências dos fatos da história. "Tem que ler, pesquisar, se enfiar dentro de bibliotecas, estar ligado no que está acontecendo, nas descobertas arqueológicas", explicou Terezinha.
Ambas também dizem que um historiador não pode nunca deixar de lado seu senso crítico. Para Caroline, mais do que apenas estudar os fatos históricos, a função do profissional da área é social.
História é o campo do conhecimento que estuda o passado humano em seus vários aspectos: economia, sociedade, cultura, ideias e cotidiano. O historiador investiga e interpreta criticamente os acontecimentos, buscando resgatara memória da humanidade e ampliar a compreensão da condição humana.
Confira o que o formando em História pode fazer:
– Autoria e consultoria: produzir e avaliar material didático para o ensino presencial e à distância para editoras ou instituições de ensino
– Consultoria: atuar nas áreas de produção de vídeo e peças de teatro e de turismo histórico;
– Ensino: lecionar história geral ou do Brasil para os ensinos fundamental, médio ou cursos pré-vestibulares. Com graduação, dar aulas na educação superior;
– Memória empresarial: pesquisar a história das empresas e instituições e apresenta-la em livros, artigos ou reportagens
– Pesquisa: investigar temas específicos em arquivos, institutos de pesquisa e universidades para produzir teses, livros e artigo