1. A umbanda e o candomblé são as principais religiões de matriz africana no Brasil. O que há de diferente entre elas?
O candomblé tem influência indígena. A umbanda, não A umbanda foi criada por um brasileiro. O candomblé, não Não há diferença. São grupos diferentes, mas os valores são iguais A umbanda é uma religião brasileira, fundada por um brasileiro, Zelio de Moraes, no dia 15 de novembro de 1908. Foi formada a partir de influências africanas, cristãs, espíritas e indígenas. Já o candomblé, ainda que tenha criado formas únicas de organização no Brasil, resgata uma cultura religiosa ancestral e milenar africana, que chegou ao território brasileiro no período da escravidão. "[O candomblé] faz parte de uma resistência espiritual dos povos africanos escravizados no Brasil", diz Alexandre Cumino (sacerdote e cientista da religião, autor de 12 livros sobre a umbanda). Para o professor Juarez Xavier, da Unesp, as religiões de matriz africana no Brasil podem ser divididas em três categorias: brasileiras, como a umbanda; afro-brasileiras, como o candomblé de caboclo; e, ainda, as afro-descendentes, que, mesmo no Brasil, reivindicam os processos de organização das religiões da África, como ketu e jêje. As diferenças de origem entre umbanda e candomblé resultam em outras distinções de doutrina e ritualística: a umbanda adere à comunicação com espíritos, por exemplo; o candomblé, não. Por outro lado, ambas acreditam em orixás como entidades divinas. As diferenças se estendem, e são análogas às de religiões cristãs distintas.2. Há mais de um significado para a palavra ‘macumba’. Qual destes é verdadeiro?
Tambor Ritual de magia negra Termo genérico para se referir ao mal A origem da expressão “macumba” tem algumas explicações. Segundo Alexandre Cumino, uma delas relaciona macumba ao nome de um tambor tocado em rituais afro-brasileiros inspirados em tradições angolanas. Outra interpretação diz que macumba é o nome de uma árvore africana. Outra, que é uma variante do candomblé que surgiu no Rio de Janeiro. Todas as explicações são diferentes de “coisa ruim” ou “magia negra”, conotação pejorativa que ofende os religiosos. “Por pura ironia, umbandistas e candomblecistas às vezes se intitulam macumbeiros para provocar a ignorância alheia”, diz Cumino.3. A oferenda é um dos símbolos mais importantes das religiões africanas. Qual destas informações sobre ela é falsa?
É dirigida aos orixás É um sinônimo de macumba É, às vezes, um gesto de gratidão A oferenda é um presente, “um agrado” que se faz a orixás ou a guias (entidades mais próximas dos humanos) como um pedido ou gesto de gratidão, diz Cumino. Também se fala nas oferendas como forma de se manter em conexão com o mundo espiritual. Elas não têm relação, portanto, com alguma forma de sacrifício. Não são “presentes para o demônio” nem “macumba”. Também não são usadas para se pedir algo para o mal, como prejudicar outra pessoa. Na prática, as oferendas são oferecidas na forma de alimento, animais ou colheitas, a depender do orixá. São deixadas em um lugar especialmente sagrado para cada deus. São decoradas, e, durante a entrega, os fiéis fazem uma oração. O exemplo mais famoso é a oferenda a Iemanjá, entregue ao mar. Há um ritual durante a oferta — uma prática análoga a de se acender uma vela a um santo na Igreja Católica.4. Quem é Exu nas religiões de matriz africana?
Equivale a Jesus no cristianismo Equivale ao diabo no cristianismo É o orixá que mais se assemelha aos humanos Orixás são como deuses das religiões de matriz africana, cultuados tanto no candomblé quanto na umbanda. Exu é um orixá que é guardião e protetor, senhor das mensagens, caminhos e encruzilhadas, que representa a virilidade, a magia e o empoderamento masculino, segundo Alexandre Cumino. É vaidoso, culto, conhecedor dos assuntos mundanos e da natureza humana, sendo o orixá que mais se assemelha aos homens. Na umbanda, é considerado um espírito humano à esquerda (“nas trevas”) da religião, embora trabalhe pelo bem. Por esses motivos, e por sua representação ser o falo, ele é identificado erroneamente como o diabo ou demônio. Não há correspondente ao diabo nas religiões africanas — porque, segundo elas, o mal em si não existe. Todos são bem e mal ao mesmo tempo.5. Qual a relação da umbanda com o cristianismo?
Não há relação A umbanda também considera a Bíblia um livro sagrado Orixás da umbanda são associados a santos católicos A umbanda, dividida entre raízes negras e fundamentos cristãos, incorporou a imagem de Jesus, e seus orixás são associados a santos católicos. A associação entre religiões de matriz africana e o cristianismo explica-se pelo sincretismo, nome que se dá à fusão de elementos de diferentes cultos ou doutrinas religiosas. No período colonial, os negros escravizados no Brasil eram proibidos de cultuar suas divindades livremente — deveriam seguir o catolicismo, religião oficial no país. Os negros, então, passaram a associar seus orixás aos santos, para poder cultuá-los em público, de modo disfarçado. Iemanjá, por exemplo, está associada à Nossa Senhora da Conceição. O mesmo acontece no candomblé, que cultua os mesmos orixás que a umbanda.6. Qual o livro sagrado dessas religiões?
Alcorão Não há codificação Tripitaka As religiões de matriz africana não são codificadas, pois não possuem um livro sagrado, e sua tradição é oral. Segundo Cumino, sua base é “o amor, a fé e a ética diante da vida, da natureza e do todo”, além de “lendas que explicam os mitos”. A umbanda, embora não tenha um livro sagrado, estuda os livros sagrados de outras religiões e livros diversos de sua doutrina, afirma Cumino.7. Você já deve ter ouvido a expressão ‘incorporar uma entidade’ na umbanda. Qual destas informações sobre esse ato é falsa?
A incorporação é um tipo de possessão A incorporação está associada à mediunidade A incorporação é um ritual de manifestação de um espírito ou orixá Incorporação é diferente de possessão. Segundo Alexandre Cumino, na umbanda, significa “emprestar seu corpo para que outro ser (espírito ou orixá) se manifeste”. Ao contrário do que acontece em um estado de possessão demoníaca — uma referência cristã —, durante a incorporação o espírito e consciência da pessoa “incorporada” continuam habitando seu corpo. O ato de incorporar uma entidade funciona mais como conexão do que, de fato, possessão. Quem o pratica é chamado de médium, termo associado à mediunidade. Em poucas palavras, a alegada comunicação entre humanos e espíritos.8. Por que há sacrifício de animais em rituais do candomblé?
Porque animais não são considerados criaturas divinas Os animais são servidos para alimentação em cerimônias Os animais são abatidos para satisfazer ao chefe do ritual No candomblé, os animais são abatidos para serem servidos em ceias durante cerimônias, em ocasiões específicas de festividades. “É o mesmo que está por trás do peru de Natal”, diz Cumino. “A diferença é que o bicho não morre no matadouro e sim na mão do sacerdote.” A ideia é “comungar um momento sagrado” por meio da partilha do alimento com a comunidade, segundo ele. Além disso, o abate religioso não maltrata o animal, que antes da cerimônia participa de um rito de preparação. As partes impróprias para se comer não vão ao lixo — são oferecidas ao orixá. A umbanda não faz sacrifício animal.9. O que é Batuque e Tambor de Mina?
Instrumentos sagrados usados em rituais do candomblé Instrumentos sagrados usados em rituais da umbanda Religiões afro-brasileiras do Rio Grande do Sul e do Maranhão Batuque é o nome genérico que se dá a religiões afro-brasileiras típicas do Rio Grande do Sul. Nelas, o culto é exclusivamente aos orixás. Seus primeiros praticantes eram escravos de regiões onde hoje estão Nigéria e Benin, na África. O batuque gaúcho (existe também o batuque paraense) chegou a se estender também para Argentina e Uruguai. Já Tambor de Mina é uma variante do candomblé que se manifesta principalmente no Maranhão, embora esteja presente em outros estados do Nordeste e do Norte. O nome Mina tem origem nos “negros-mina”, termo usado para designar escravos trazidos da “costa situada a leste de Castelo de São Jorge da Mina”. O castelo foi construído pelos portugueses em 1482 para servir de base militar e entreposto comercial. A localidade hoje fica dentro do território de Gana.10. Há uma série de costumes vindos de religiões africanas que foram incorporados à cultura brasileira. Qual destes não foi?
Pular sete ondas no Ano Novo Ter um vaso de sete ervas Não comer carne na Páscoa Tornaram-se costumes de boa sorte no Brasil usar branco no Ano Novo, pular sete ondas ou oferecer espumante no mar — todos costumes da umbanda carioca, diz Alexandre Cumino. Outros hábitos comuns são usar uma folha de arruda na orelha contra “mau olhado” e ter um vaso de sete ervas, por exemplo. Para pesquisadores da área, a importância das religiões de origem africana não pode ser medida apenas por sua quantidade de adeptos, mas por sua participação na cultura nacional não-religiosa. Sua presença é marcante na literatura, nas artes plásticas, na culinária, na música popular e no carnaval. Já não comer carne na Páscoa é uma tradição cristã.